Israel Vainboim: “Arquiteto & Casamenteiro”

Acabo de ler a autobiografia “Israel Vainboim: Lições de Arquitetura Financeira” (Editora Gente, 2013, 226 páginas e 49 capítulos). Para quem não o conhece, Israel Vainboim foi um dos principais líderes do Unibanco. Mas, seu percurso profissional vai muito além do Unibanco.

Vainboim se define como um “arquiteto” financeiro, ou seja, aquele que desenha o negócio, que pode ser um novo produto financeiro, a aquisição de empresa, a formação de uma nova empresa, a reorganização de empresas existentes e/ou a captação de recursos. Também define-se como “casamenteiro” quando se refere a sua habilidade de formar sociedades.

Tive a oportunidade de participar de algumas reuniões com ele, quando trabalhei na área de fusões & aquisições do Unibanco (1995-2002). Quando Israel participava de uma reunião, sabíamos que algo importante estava para acontecer.

Sempre muito bem vestido e simpático, Israel falava pouco nas reuniões, mas quando falava era cirúrgico. Ia direto no amago da questão com objetividade e frieza peculiares. O livro também segue seu estilo objetivo, com capítulos curtos, alguns com pouco mais de uma página. Em algumas passagens, mostra um pouco de seu lado emotivo, como foi no capítulo que relata o convívio no ultimo mês de vida de seu pai.

Dois aspectos chamam muito a atenção em seu percurso profissional que são raros hoje em dia. O primeiro, é que trabalhou 40 anos em um único empregador, o Grupo Moreira Salles. Ok, o Grupo Moreira Salles tem vária empresas, dentre elas o Unibanco, a CBMM, a Cambuhy Citrus,…, mas trata-se de um mesmo empregador. Nestes 40 anos, sua história se confunde com a história do Grupo Moreira Salles. Neste mundo em que vivemos hoje, onde os profissionais “pulam” de emprego em emprego para maximizar suas remunerações e vaidades, esquece-se que para construir uma reputação, uma história dentro de uma empresa é preciso tempo.

Sua dedicação e competência conquistou a confiança da família Moreira Salles. Não demorou muito para estar envolvido em quase em todo negócio estratégico do Grupo. Sua proximidade com os Moreira Salles abriu acesso à tomadores de decisão no Brasil e no mundo. Esse acesso permitiu ao hábil Israel arquitetar produtos financeiros inovadores, transações fascinantes de fusões & aquisições e captar bilhões em recursos para os investimentos do Grupo.

O segundo aspecto que chama a atenção no percurso profissional do Israel que também me parece esquecido na atualidade que vivemos: grandes negócios começam (ou terminam) com pessoas. Pessoas que sobrepõe empresas. No mercado, o Unibanco tinha fama de ser um “banco de diplomatas”, em referência ao embaixador Walter Moreira Salles. Seu relato também fala de “diplomacia”, embora não use essa palavra. Em várias situações, demonstrou como uma boa articulação entre sócios pode ser poderosa na criação de oportunidades para agregar valor (Cambuhy, CBMM, sócios estrangeiros do Unibanco (AIG, Commerzbank, BofA, Dai Ichi Kangyo Bank, Caixa Geral de Comércio), Porto Seguro, Itaú, acionistas minoritários na BOVESPA e NYSE…).

Nesse mundo recente marcado por empresários-heróis instantâneos, é um livro que vale a pena ler. Israel não é um herói, muito menos instantâneo. Trabalhou arduamente nas empresas que contribuiu. Em várias passagens do livro, inclusive em sua dedicatória, ressalta o valor e a importância das equipes com quem trabalhou. Não fez fortuna, como ele mesmo afirma, mas construiu uma vida confortável para si e seus filhos. Seu percurso mostra consistência e consistência por muitos anos. Houve erros, sim houve erros e ele mesmo os admite (por exemplo, a franquia da Blockbuster). O tempo demonstrou que o valor de seus acertos foi maior do que de seus erros.

Aprendi muito lendo o livro de Israel. No Unibanco, Israel era uma figura “mitológica”, mas eu sempre desconfiei de mitos. Comprei seu livro justamente por querer conhecer mais deste “mito”, inclusive através de suas próprias palavras. Mesmo nos trechos onde há uma certa dose de vaidade (e quem não tem?), não acho que Israel se coloca nesta posição de mito. Muito menos de “herói”. Diferente do tom do livro de Cristiane Correa sobre o trio Lemann – Sicupira – Telles (o próprio título sugere heroísmo: “Sonho Grande: Como Jorge Paulo Lemman, Marcel Telles e Beto Sicupira revolucionaram o capitalismo brasileiro e conquistaram o mundo”). Param maiores detalhes, vide post publicado neste blog em 8 de novembro.

Sobre Eduardo Luzio

Economista pela USP (88) e PhD pela PhD University of Illinois (93). Consultor em finanças corporativas e estratégia. Professor de finanças na FEA-USP, FGV -SP e Insper.

2 Respostas para “Israel Vainboim: “Arquiteto & Casamenteiro””

  1. Analise perfeita do mestre IV , tambem trabalhei no Unibanco varios anos e graças a confiança depositada por ele em mim , consegui aprender muito com ele.

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  2. Trabalhei no Unibanco entre os anos 74/88 e tive a satisfação de conhecer os Srs. Vainboim e Meilman. Em algumas reuniões que participei com eles, obtive muita experiência .

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