Mas, afinal, o que é o EBITDA? Para que serve?

Durante uma aula de finanças, Tiago, um aluno astuto e atento fez mais do que uma pergunta, foi quase um desabafo: “mas, afinal, o que é o EBITDA?” 

A pergunta é ótima, mas… a resposta…

EBITDA em inglês, ou LAJIDA em português, refere-se ao Lucro Antes de Juros, Impostos (de renda), Depreciações e Amortizações (Earring Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization).

O EBITDA é muito popular dentre aqueles que analisam e administram empresas, aqui no Brasil, e no resto do mundo. Muitas destas pessoas entendem o EBITDA como uma medida de lucro operacional mais representativa da rentabilidade da empresa, uma vez que não considera algumas despesas de natureza contábil (no caso, a depreciação do Ativo Imobilizado e a amortização do Ativo Intangível). Como o EBITDA não considera despesas financeiras, ou seja, o grau de endividamento da empresa, o EBITDA permite aos analistas compararem empresas diferentes em diversos setores da econômica.

Mas, este entendimento pode ser ilusório.

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Essa ilusão advém de outros aspectos contábeis que vão além da depreciação e amortização. Trata-se das variações no capital de giro. Por exemplo, suponha uma empresa que, em maio, vendeu R$ 100 mil (receita líquida). Estas vendas foram todas pagas à vista, portanto a empresa recebeu R$ 100 mil em dinheiro de seus clientes em maio. Pela contabilidade, quando a empresa vende algo, ela tem de lançar todos os custos e despesas relacionados a estas vendas (é o chamado “regime competência“) em maio. Suponha também que os custos e despesas operacionais associados as vendas somaram R$ 60 mil, todos pagos em maio. Neste caso o EBITDA seria de R$ 40 mil (100 – 60). O resultado em dinheiro (“regime caixa“) também foi de R$ 40 mil, pois toda a receita e todos os custos e despesas operacionais foram transformados e pagos em maio.

No junho, a empresa também vendeu R$ 100 mil, mas agora 70% foi à prazo e 30% à vista. Pelo regime competência, a receita foi de R$ 100 mil. Supondo que os custos e despesas operacionais foram os mesmos do mês passado (R$ 60 mil, todos pagos em caixa em junho). O EBITDA seria de R$ 40 mil novamente (100-60), mas o resultado em dinheiro seria negativo em R$ 30 mil (30-60).

Neste exemplo, houve uma mudança qualitativa importante na receita da empresa (70% das vendas foram a prazo) que não foi capturada pelo EBITDA. Esta mudança (variação no capital de giro) distorce o EBITDA, que pelo regime competência não mudou de maio a junho, mas, em regime caixa, a mudança foi significativa (de R$ 40 mil positivos para R$ 10 mil negativos)! O aumento nas vendas a prazo pode ter sido gerado pela entrada de um novo concorrente. Portanto, não só a empresa teria um “buraco de caixa” em junho, mas também seu futuro poderia ser incerto…

Ah, mas, os R$ 70 mil de vendas à prazo serão recebidos no futuro e o “buraco de caixa” será coberto. Será? E se houver inadimplência nas vendas à prazo? A questão neste exemplo é que os custos e despesas são pagos todo o mês, mas as receitas não são totalmente transformadas em dinheiro no mês.

Então, o que é o EBITDA? Uma aproximação do resultado operacional da empresa? Para que serve o EBITDA?

O EBITDA é um “atalho”, mas que pode levar o analista para o lugar errado!

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Então, se não é o EBITDA, como podemos mensurar o verdadeiro resultado operacional de uma empresa? Para continuar essa investigação, clique aqui e descubra

Sobre Eduardo Luzio

Economista pela USP (88) e PhD pela PhD University of Illinois (93). Consultor em finanças corporativas e estratégia. Professor de finanças na FEA-USP, FGV -SP e Insper.

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